Blog de Farley Rocha

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Olhar interior

Além das fronteiras nacionais e bem além das divisas internacionais, pra lá das divisões políticas e econômicas, em outras aglomerações culturais de terras além-mar, dizem é que é por lá que o mundo acontece. E vem acontecendo não de hoje nem de ontem. Já se desenrola há muito na história hereditária, pela confluência de hábitos e sofisticação que culminam e se condensam sempre em seus grandes centros globais.


Lá, onde o mundo acontece, respira-se sobre o asfalto serpenteando torres de vidros e outdoors a poluição em forma de partículas do desenvolvimento e substâncias de instantâneas novidades em forma de perfumes, comidas finas, arte e modernidade.


Porque dizem que são por essas lotações urbanas que conceitos são definidos, modas são disseminadas, tendências de contemporaneidade são reinventadas, em intensidades simultâneas e semelhantes tanto pelas avenidas de Londres, calçadas de Tóquio ou galerias de Nova York. De lá pra cá o futuro é exposto em vitrines exibindo grifes, discos e cultura de massa informatizada. Funcionando tipo mercadoria de exportação via satélite para o resto.


Dizem que o mundo acontece pelas ruas dessas metrópoles megalópoles, percorridas por manequins humanos com roupas descoladas e penteados coloridos. O que acaba sendo reflexo ou extensão simbiótica do som indie, cult ou cool que produzem nos pubs cheirando a vodka e gelo seco. De alguma forma essas agitações transpõem oceanos e continentes, seja por ondas hi-tech virtuais ou por estrangeiros curiosos que por lá frequentam, e chegam à parte inferior do globo onde, naturalmente e ao nosso modo, o mundo acontece.


Aqui, aquelas mesmas tendências e modas, formações de conceitos e sonoridades pop undergrounds ocorrem, na velocidade do constante movimento que amanhece e anoitece pelas grandes cidades tupiniquins, onde o que é produzido ou ditado não chega a ser copiado. Mas de qualquer maneira institui.


Sempre que caminho entre as pastagens e cachoeiras que permeiam as montanhas onde vivo, tenho a sensação de que o mundo além dessas cordilheiras está acontecendo a toda hora, e que eu, com um olhar interior, sou uma espécie de plateia, assistindo e apenas ouvindo falar de longe. Sobre o resto.


Nas estradinhas, aumento ao máximo o volume do meu mp3 e sigo minha caminhada, porque sinto que aqui, mesmo cartograficamente distante, o mundo também acontece.

*

A este, quem estará assistindo?

4 comentários:

Luiz Fernando "Mirabel" disse...

Os melhores signos estão no invisível.

No indivisível estão as melhores coisas.

É no átomo que a vida acontece.

Êta...interior!

Meu bom, meu tempo é temporário, por isso ausento...continuemos o contato!

Abraço!

Lucifer_Sam disse...

como dizia chico xavier, qquer fosse o período em q estivesse: "isso tb vai passar"; temos, ambos, o caráter do observador- e relaxe cabocão, pois a frase embora fosse usada pelo chico não é necessariamente- outra possível pra usarmos é "foi, nunca mais será"- achque essa é minha msm, rsrs;
abração ae!

Lucifer_Sam disse...

foi mal, *não necessariamente DELE...mas muito mais antiga.

Rita Rios disse...

Engraçado, lendo "Olhar interior", de repente, vislubrei a vastidão do tal mundo lá fora. Aqui, em Areado, e dentro de mim, também sopram os ventos bucólicos do interior. Mundinho pequeno, descubro. Mas não menos grandioso. Singelo, mas não menos rico. Sei desse mundo lá fora, e gosto. Descubro esse mundinho daqui pot entre montanhas e represas, e me descubro. Também gosto. Bom é estar aberto às grandiosidades e pequenezas que se somam e se completam. E felizardos somos de poder sentir no rosto o vento que "assopra" por entre as nossas montanhas. E confesso que chego a lamentar pelos que só tiveram oportunidade de conhecer as coisas megas e não puderam nunca sentir o cheiro de mato, o aroma de um café passado num fogão a lenha. Mas isso já é coisa minha.

Parabéns pela crônica. De novo.
Beijão