Ensaios sobre a loucura
Desde muito tempo me intrigo com a arte principalmente pelo motivo de que, em qualquer gênero que seja, ela possui aquela linhazinha tênue da loucura, separando o real e o universo fictício. Uma linha percebida e determinada pelo próprio artista. Sinto que na poesia algo semelhante acontece: o poeta forje este limite enquanto escreve, e neste ato pouco se sabe o que do poeta é realidade e o que já se tornou loucura. Algumas vezes o poema acaba pisando do outro lado desta linha, e quando isso ocorre, não sabemos se são os versos que não fazem mais sentido ou se foi o poeta mesmo quem enlouqueceu...
Entre esse limite está o Qu4rteto...
1.
Anda. Esquizofrênicos passos
passam rente aos espaços.
Olha. Para e se cala
prestando atenção a nada.
Vê. Fala e sorri
observando tudo daqui.
Pensa: eu ou você
que anda olhando o que não pode ser?
*
2.
Antes de pensar algo,
deixe que eu não me explique,
deixe que eu não disfarce nada,
deixe que minha cara faça
a feição que tiver de ter.
*
Antes de desviar os olhos,
deixe que eu aconteça em mim,
deixe que eu demonstre tudo,
deixe que minha farsa faça
a ficção que tiver de ser.
*
3.
Árvore,
uma sombra refletida
pelo sol da manhã
ao acordar.
*
A alquimia do ar
pairando no respirar
de alguém que retorna
sem ter saído do lugar.
*
4.
Eu não tenho compromissos
* * *
*
(Imagem em Art Fractal do designer e DJ Célio Ricardo Canibal)
Um comentário:
"Esquizofrênicos passos
passam rente aos espaços."
Tá aí algo que eu gostaria de ter escrito...
Simples, belo e sonoro -- como todo bom poema.
:)
Postar um comentário