Lamentação é o que são as tais pedras metafóricas. Ou melhor, as pedras são o que geram as lamentações. Todo mundo se lamenta por alguma coisa. Então, cada um possui as próprias pedras nas quais tropeçam por aí, perdendo o equilíbrio, ou até caindo, ou somente perdendo a unha do dedão do pé. Difícil não é se livrar dos problemas, mas transformar as pedras em poesia.
O que não acontece com a senhorinha da rodoviária, vestida com o jaleco da limpeza pública. Ela sempre para apoiando o queixo sobre o cabo da vassoura e lamenta. Diz que o marido ganha mal e que o filho tá fumando maconha; diz que a vizinha ouve música muito alto e que isso a incomoda profundamente, porque sofre de perda de audição; diz que economiza no tomate pra comprar um pezinho a mais de alface. No final, respira fundo e vira um olhar triste para o chão: “agora deixa eu acabar de varrer essa imundície porque tá quase no meu horário”.
Da mesma forma lamentam as dondocas, se não por razões financeiras, por questões emotivas. Lamentam as lavadeiras da rua Major Pereira. Também lamentam as adolescentes de mini-short no Calçadão. Todos os dias tropeçam em pedras todas as mulheres de que se tem notícia.
Claramente, também lamentam todos os homens. Ou por falta de dinheiro pra cerveja do fim de semana ou por falta de quem lhes dê carinho. Homem sorri reclamando e sempre reclama quando algo não o deixa sorrir. E pior, homem é covarde ao se lamentar. Diferente da mulher, quando a situação é grave o homem chora para dentro, no momento em que o sofrimento deve sair. E com isso também há pedras sobre os horizontes dos homens.
Mas foi na praça Cira Rosa, sentado ao lado de um velhinho com sinuosa calvície e óculos de aro grosso, é que comecei a pensar melhor sobre as pedras que metaforizam os nossos dilemas diários, quando o velhinho disse:
- Sabe, rapaz, há oitenta anos atrás eu encontrei uma pedra bem no meio do meu caminho. E te digo que esta mesma pedra mudou totalmente todos os meus outros caminhos.
*
Salvo engano, acho que o nome dele era Drummond.
2 comentários:
Hummmm... será que foi Drummond, mesmo? Pesquisarei na Wikipédia (!!!!)...rsrsrs... Fora a minha piadinha boba, maravilhosos os teus textos.
Não sei pq recebi mail, avisando sobre a atualização das tuas "POESTAGENS". Só passei pra conferir qual era, pq não lembrava (e ainda não lembro) de como meu mail foi parar na tua lista. De qualquer forma, fico contente que tenha sido assim. Fez-me bem passar aqui.
Certamente não esquecerei mais esse endereço, nem deixarei de vir.
Abraço.
Fala, homem de trás do morro, como vai?
Se minha poesia tem plástica é porque fotografo o mundo em memórias distorcidas...
Suas crônicas, porém, são certeiras. Indicam um lugar que preciso descer do tempo para conhecer...Espera Feliz, me espere!
Drummond não é pessoa, é tempo em espaço...
Abraço!
Postar um comentário