Se houvesse uma escala de medida para medir o tempo de uma vida, fora os trezentos e sessenta e cinco dias anuais, o mais cabível seria talvez o ciclo tri-anual da vida de cada um de nós.
Em determinado ponto, um ano apenas é tempo muito curto para se comparar largas mudanças na evolução e amadurecimento de uma pessoa. Já uma trinca desta mesma quantidade seria o suficiente para se comparar períodos de transformação da nossa postura. Naturalmente três anos são equivalentes a mais de mil dias de experiências. Se vividos, ninguém passa por eles sem receber nenhuma marca. Estágios de experiências. Estágio de vida.
Do zero aos três anos de idade, se aprende a andar, comer sozinho e falar. Com até espaços vocabulares de criatividade em que se memoriza palavrões e os diz para animar os adultos mais sacanas de seu convívio.
Dos três aos seis anos, desenvolve aptidão para alguma modalidade de esporte, e já consegue discernir algum conceito de “certo” e “errado”. Aprende que o mundo é mundo mesmo, e se sente pequenininho no meio de tantos seres tão gigantes. E, o mais importante, reconhece que qualquer coisa, pra existir, se baseia não apenas na oralidade, mas fundamentalmente na escrita. E começa a ler e escrever algumas palavras quando entra na escola.
Depois disso, até os nove já tem tanta consciência da tecnologia da linguagem escrita que, a esta altura, consegue redigir suas próprias histórias e, ao seu modo, criar suas maiores aventuras através da imaginação infantil. Além de já pensar no que vai ser quando crescer (médico, artista de circo, astronauta e, claro, jogador de futebol).
Dos nove anos aos doze, já viveu suficientemente para ter tido o seu primeiro grande amor, mesmo que em total segredo, e começa a não saber mais se ainda é criança ou se quer ser adulto (“brinquedos ou beijar na boca?”).
Nesse período as transformações do corpo são latentes tanto ou mais quanto as interiores. Até os quinze anos nascem bigodes nos meninos e seios maduros nas meninas. E aí sim, se acham mais pra lá (adultos) do que pra cá. “O que fazer agora?”, se perguntam, aborrecidos.
Choram. Choram e se enchem de alegria numa velocidade alternante durante as vinte e quatro horas do dia de um adolescente. Até os dezoito anos aprendem as letras e nomes de bandas de rock preferidas, tomam o primeiro porre (no meu caso, foi de Stª Remy, sem gelo) e experimentam algum tipo de droga. São rebeldes e errantes. Contudo, são jovens, por isso revolucionários de si mesmos e dos sentimentos do mundo.
Em seguida, conhecem um dos primeiros pesos da responsabilidade cobrada pelo mundo real: a escolha de uma profissão. Daí aos vinte e um são cobaias de si próprios, experimentando suas próprias vontades. Iniciam-se em suas carreiras e daí uns anos se tornarão advogados, professores, jornalistas ou donas de casa. E até o final do estágio seguinte (24 anos de idade), comprovam se a escolha foi a certa ou se ainda dá tempo de se arrepender.
Até os vinte e quatro anos, ou elegantemente “quase um quarto de século vivido”, a ficha acaba caindo e na descoberta instantânea de que já não somos mais adolescentes, sentimos o outro peso: de que o tempo passa para todo mundo, inclusive para gente também. Lembrando de fatos primordiais na nossa memória, sentimos soar estranho quando dizemos “aconteceu a dez, doze, quinze anos atrás”. E a todo momento nos vem à cabeça que já não nos é mais permitido errar ou ostentar posturas divergentes às de quem é exigido maturidade e equilíbrio em tudo (até num piscar de olhos, num acenar com a mão). Afinal, somos de fato adultos, irreversivelmente adultos.
Dos vinte e quatro anos em diante, há espaços para se pensar em coisas que eram tão distantes a pouco tempo atrás, como se casar, ter um filho, traçar objetivos sólidos para serem alcançados até antes dos quarenta e etc. A partir daí, não há mais volta.
Eu, após cumprir todos esses estágios, amanhã estarei completando o meu nono ciclo. E com a mesma impressão de que iniciarei o próximo como se caísse de pára-quedas dentro dele.
Só espero que a aterrissagem seja suave e leve o bastante para que eu conclua os muitos outros ciclos que virão sempre com o mesmo brilho nos olhos que tenho hoje...
*
Que assim seja!
Um comentário:
O tempo é injusto pela certeza de seus ponteiros. Certeza essa, que não é a mesma de nossos pensamentos.
Completo mais um ano esse mês, (in)certo de que em cada hora passada estão contidos micro espaços mortos dentro de mim.
Ainda bem que a amizade contida em nossas frases são o suficiente para não sucumbirmos ao relógio e garantir um abraço atemporal!
Parabéns!
Por tudo, ciclo, livreto e textos!
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