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1. Do lado esquerdo:
São cenas intensas e corridas. Pessoas se olham, se tocam e se beijam. Outras se despedem, choram, riem. Mas por toda parte percebe-se que a vida segue, mesmo que não pareça. Então são recortes de quotidiano. Olhares que poderiam ser trocados em Londres ou flertados em qualquer esquina daqui. Mas não, são momentos de Paris, em harmonioso francês urbano na curvatura da voz grave dos homens, no refino natural pelos lábios das mulheres. Os casais, as famílias, os amigos, o studio. Algumas mesas com vinho, vagabundo ou não. Ao ar livre, ruas difusas quanto a antiguidade de suas pedras. Diálogos das possibilidades e de afeto, sorrisos e abraços dos que se manifestam com sentimento e vigor.
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2. Do lado direito:
As imagens passam embaralhadas. Um monte de gente pra lá e pra cá. Outros param, parecem sofrer, mas dão risadas. Também desperta curiosidade em saber como vai ser a vida deles depois. Tudo parece propagandas, de tão comuns e curtas as coisas que aparecem. Vêem-se de uma forma simples igual a qualquer um. Mas no fundo é diferente. Todos ali olham da mesma forma, quando se falam embolado nas palavras, porém gostoso de ouvir, tanto quando eles falam quanto elas. Às vezes são poucos, às vezes muitos, às vezes estão dentro de casa. Bebem sempre. Caminham em ruelas estreitas incoerentes de qualquer familiaridade arquitetônica, sombrias e cinzas. Conversam sobre muitas coisas e parecem ser felizes, porque a todo instante se abraçam.
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3. As luzes se apagam:
Uma pergunta cruza sem direção o vão da cama:
– Gostou do filme, amor?
– Não entendi absolutamente nada. Mas achei lindo, tanto pra chorar como também até pra rir.
– Te amo. Boa noite.
Beijam-se com paixão e em seguida dormem.
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Crédito da imagem: Fréderique Barraja / Victoires International 2006.
Um comentário:
Um ponto de vista
quando,ao vento se propaga a vida
de conversa cochichada ao pé do ouvido.
e deixa todo olhar,se perder no tempo ...
isso só acontece,quando a visão nega o que se vê.
quando, se passa em caminhos confusos,
o pequeno olhar disfarça em instantes,
e esses olhos "rasos",
dão a perceber por um instantes
que não há sentimento algum.
e, quando, enfim,
o forno despeja a vida,
que de tamanha astúcia
mostra a face "ideal".
"PAULO ERENIO"
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