Não era por nada o acúmulo de nuvens ao redor da semana, mas o anúncio de seu desabamento já era premeditado de alguma forma muito aparente, uma vez que se estampava em sua densa cor escura a sugestão da dimensão e do peso molhado das gotas de chuva. Vieram e caíram à cargas pela madrugada antes do início do sábado, e jorraram úmidas e fortes aos montes pelos telhados, caminhando em calhas solitárias que recolhiam sua umidade, se direcionando rumo a qualquer outra parte que ainda não estivesse totalmente molhada.
O fim de semana então era completo de um vazio preenchido apenas pelo temporal. A cada minuto e instante. A cada hora do dia que se repetia como se as goteiras dentro das casas projetassem os raios do sol que não se fez fora delas. E a luz era cinza, e a janela fechada e as ruas vazias eram cinza, e o dia todo era cinza como se todo momento fosse feito de entardecer. Dentro e fora das moradas.
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Nesse entremeio, o chão das calçadas ocultava-se cada vez mais pelas poças. As árvores carregadas choviam também sob suas folhas. A enxurrada varria as ruas levando qualquer eco de voz não dita em sua superfície barrenta até o gargalo do engolir dos bueiros. E o fim de semana foi só de chuva. Sem gente, sem movimento. E a cidade parecia estar inundada, tanto por fora como por dentro de todas as casas. Encharcadas de chuva, de tédio e de mais nada.
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