Blog de Farley Rocha

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Qu4rteto (Volume V)



* * *

Anotações de guardanapo
Apenas reafirmo: quem escreve vive de lampejos que a qualquer instante, em qualquer lugar vêm em forma de ideias na intensidade reflexiva de um raio. Mesmo que o flash seja só o de uma centelha, tem-se a necessidade de registrar o que se viu, se sentiu ou se viajou durantes estes momentos relâmpagos. Daí, qualquer coisa ao alcance que possibilite a caligrafia é válido para quem tenta encaixar palavras de existência tão veloz.

Os apetrechos mais comuns: os guardanapos. E o próprio meio em que eles são usados para seus devidos fins, geralmente os botecos, já sugere histórias e pensamentos tão bambos quanto as mãos trêmulas de quem os escreve.

Por isso, quanto ao destino dos guardanapos, uma parte desaparece esquecida em bolsos, bancos de praça ou deixada para trás sobre a mesa do próprio bar. Outra parte vai parar em blogs como este, na forma de um Qu4rteto:

* * *

-----------------(a Alexander Supertramp)

Uns procuram ar,

sufocam-se em si mesmos.

Outros procuram dor,
amenizam-se no prazer da cura.

Procuram metas estratégicas,
descobrem no final o tempo.

Buscam o oxigênio,
e daí, de si mesmos submergem.

Muitos sentem a carne e sangue,
inutilizam a sensação do ópio.

Poucos, a tempo e a seu tempo,
abandonam hostis a disciplina.

E vivem, sobrevivem.
Ou tornam-se imortais.

*

Como se de um instante
a outro
um turbilhão exorbitantemente
de coisas
manifestasse no infinito
pequeno espaço
entre ela

e eu.

Colisões extraordinárias
desencadeando estrondos no meio
de nós,
titânicas explosões percebidas
somente por mim
e por mais
ninguém.

Terremotos e avalanches
fazem desmoronar meu pulso,
abalam a complexa frágil
estrutura orgânica da qual sou feito.

Tremo ao presenciar.

Embora o mundo não esteja acabando,
foi só ela olhar nos meus olhos,
e pronto.

*

um livro escorregou-se da minha mão,
milhares de letras ao chão

---------------------------delas nasceram árvores
---------------------------e da ponta dos seus galhos,
---------------------------livros
*

meu poema

é pó e palavra
ponto de poeira
perdido pelo porão
é poro de pele pura
púrpura e pálida
pungente pegada
dos pés pelas mãos.

(Imagem em Art Fractal do designer e DJ Célio Ricardo Canibal)

2 comentários:

ELILUC disse...

Hola, paso a saludarte y conocer tu blog.
Saludos

Anônimo disse...

na esplendidura beleza do fazer letrístico contemplo a maravilhosa ultraquente máquina perempetória lampejante cuspidora de verdades que deve ser sua cabeça. como a minha com molho, como devagar mordo os pedaços e morro, é aí que vivo mesmo, quando morro estou vivo bem.