Chara vivia de mau humor. Todos os dias ia para o trabalho com os olhos sérios. Fazia penteados num salão do Centro e, por isso, todo mundo conhecia Chara, e sabia que seu rosto era sempre daquele jeito, sério.
As pessoas na rua cumprimentavam Chara e ela, sem gestos na face, apenas acenava com a cabeça. No máximo dizia oi. No salão em que Chara trabalhava, se expressava um pouco mais, conversando (em frases curtas) com as clientes diárias. Mas séria, sem rir de nada nem de nenhum comentário ou fofoca.
Chara, durante a semana, trabalhava até às oito da noite. Aos sábados, até às dez ou onze, dependendo. Chara não tinha mesmo muito tempo. Mas este não era o motivo da cara fechada de Chara, porque para as coisas que gostava de fazer, não precisava de muito tempo.
Quando chegava do serviço, Chara geralmente lia uma revista (não gostava de tv), às vezes recortava suas figuras e fazia colagens, outras vezes escrevia uma frase qualquer com os recortes e tentava criar outras usando as mesmas palavras em ordem inversa; também o que agradava muito a Chara era polir sua coleção de chaves, que possuía desde criança e que crescia mais a cada ano. Porém, nada do que gostava tinha o poder de despertar um sorriso seu. Era mesmo mau humorada, sempre.
A mãe de Chara perguntou um dia “porque não arruma um namorado?”. Depois que Chara terminou o seu último namoro sério (e isso quando tinha dezessete anos), nunca mais se interessou por ninguém, assim, sem motivo algum. Chara não respondeu, mas, quando foi se deitar, refletiu sobre a pergunta da mãe.
Um dia Chara soube que o rapaz da contabilidade a achava atraente, mas também muito ranzinza, o que a deixava apagada, escondida. Chara trabalhava com beleza e quanto a isso ela sabia se cuidar. Portanto, era mesmo bonita. Mas não importava, Chara não sorria, na face era sempre o mesmo olhar, inacessível.
Depois de muitos outros penteados no salão, Chara chegou em casa e olhou sua coleção de chaves. Decidiu que iria parar de juntá-las e todos os dias levaria uma consigo e a deixaria cair de propósito no chão, sempre que passasse perto do rapaz da contabilidade. O dia que ele percebesse e fosse atrás dela para devolver, ela então o retribuiria com um olhar nos olhos. E daí, quem sabe...
Até a última chave que levou, o rapaz nunca chegou a chamá-la para devolver. Foi aí que Chara acabou descobrindo que a porta que almejava abrir não possuía chave. Bastava-lhe, simplesmente, sorrir.
Desde então Chara passou a colecionar sorrisos.
*
E sorrindo assim foi que Chara se tornou uma mulher feliz.
As pessoas na rua cumprimentavam Chara e ela, sem gestos na face, apenas acenava com a cabeça. No máximo dizia oi. No salão em que Chara trabalhava, se expressava um pouco mais, conversando (em frases curtas) com as clientes diárias. Mas séria, sem rir de nada nem de nenhum comentário ou fofoca.
Chara, durante a semana, trabalhava até às oito da noite. Aos sábados, até às dez ou onze, dependendo. Chara não tinha mesmo muito tempo. Mas este não era o motivo da cara fechada de Chara, porque para as coisas que gostava de fazer, não precisava de muito tempo.
Quando chegava do serviço, Chara geralmente lia uma revista (não gostava de tv), às vezes recortava suas figuras e fazia colagens, outras vezes escrevia uma frase qualquer com os recortes e tentava criar outras usando as mesmas palavras em ordem inversa; também o que agradava muito a Chara era polir sua coleção de chaves, que possuía desde criança e que crescia mais a cada ano. Porém, nada do que gostava tinha o poder de despertar um sorriso seu. Era mesmo mau humorada, sempre.
A mãe de Chara perguntou um dia “porque não arruma um namorado?”. Depois que Chara terminou o seu último namoro sério (e isso quando tinha dezessete anos), nunca mais se interessou por ninguém, assim, sem motivo algum. Chara não respondeu, mas, quando foi se deitar, refletiu sobre a pergunta da mãe.
Um dia Chara soube que o rapaz da contabilidade a achava atraente, mas também muito ranzinza, o que a deixava apagada, escondida. Chara trabalhava com beleza e quanto a isso ela sabia se cuidar. Portanto, era mesmo bonita. Mas não importava, Chara não sorria, na face era sempre o mesmo olhar, inacessível.
Depois de muitos outros penteados no salão, Chara chegou em casa e olhou sua coleção de chaves. Decidiu que iria parar de juntá-las e todos os dias levaria uma consigo e a deixaria cair de propósito no chão, sempre que passasse perto do rapaz da contabilidade. O dia que ele percebesse e fosse atrás dela para devolver, ela então o retribuiria com um olhar nos olhos. E daí, quem sabe...
Até a última chave que levou, o rapaz nunca chegou a chamá-la para devolver. Foi aí que Chara acabou descobrindo que a porta que almejava abrir não possuía chave. Bastava-lhe, simplesmente, sorrir.
Desde então Chara passou a colecionar sorrisos.
*
E sorrindo assim foi que Chara se tornou uma mulher feliz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário