Blog de Farley Rocha

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Ela (CRÔNICA)

Ela chegou rápido até o apartamento, segurando a mão dele, que pegava as chaves no bolso com a outra. Ela tinha o respirar ofegante, depois das escadas sob os saltos. A porta se abriu e ela entrou primeiro, servindo-se de dama a um cavalheiro. Sem conhecer as paredes tateou no mesmo momento em que a luz se acendeu, por ele. Sem palavra ele foi para o quarto. Ela o seguiu, sem palavra. E sem palavra se despiu ao espelho. Ele a observava como se fosse modelo. Sem palavra ela se calou ainda mais quando sugada por ele num beijo. Deitaram-se e sem palavra ficaram. Apenas estavam...

(...).

Ela estava ofegante. Ele a olhava. Ela se virou de costas e fechou os olhos. Ele sorriu. Ela abriu os olhos e acendeu um cigarro. Ele adormeceu... E dela restaram somente as marcas no lençol que ele aspirava, quando não a viu ao acordar.

Conhecia bem as paredes, por isso ele não acendeu a luz. Correu sozinho até a porta do apartamento e saiu sem puxá-la. Desceu rápido todos os lances da escada e tropeçava em tapetes quando não nas próprias pernas. Sem palavra chegou à rua e olhou para todos os lados em profunda madrugada. Nem cães, nem faróis ou janelas. Ele procurava e ela nunca mais se encontrava. Ele se lembrava e ainda assim ela não tinha rosto, ela sem nome, e sem palavra.
*
Ele estava ofegante, quando terminou de subir sozinho as escadas. E puxou a porta, mas sem trancá-la.

Um comentário:

Milson Veloso disse...

E aí Farlei...
Gostei muito do seu blog, literatura e poesia fazem sempre bem à alma. Tenho um texto na mesma linha (parece que os romances se repetem, sempre). Quando puder, leia "Romance contemporâneo: desejo e solidão": http://ocapitulo.blogspot.com/2009/08/romance-contemporaneo-desejo-e-solidao.html