Blog de Farley Rocha

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A mulher que se ama

A mulher que se ama não é passivamente escolhida pelo olhar bandido no meio da multidão. É ela, no meio da multidão dos olhares perdidos, que se deixa ser “escolhida”. A mulher que se ama, quando assim percebida, reage em rajadas de flores invisíveis só de mexer nos cabelos – ou de pedras, caso vire o rosto. A mulher que se ama, quando se encanta na situação de um flerte, vai se permitindo aos poucos, a conta-gotas, porque sabe que no contorno de um sorriso é onde guarda seu melhor trunfo. Apesar disso, a mulher que se ama, perfeita nos assuntos de amor e conquista, termina caindo na própria armadilha quando deixa transparecer na sinceridade dos olhos, lábios, nuca, orelha, ombros e quadril o que sua boca já nem precisa mais pronunciar.

É porque quando a mulher que se ama está amando, ama de alma, de coração e ama de corpo inteiro, como se no movimentar de suas curvas revelasse seus mínimos segredos.

Uma vez enamorada, a mulher que se ama, consciente do seu gesto de amar e ser amada, sente-se para sempre responsável por cativar seu homem, tendo que domesticar um bicho por natureza desvirtuado de sensibilidade e educá-lo, como todo bom homem que sirva (para ela) deve ser. Assim, ensina-lhe que dormir oito horas por dia e beber água diariamente faz bem à saúde; que barbear-se e aparar os cabelos também são hábitos de higiene; que ambição não é pecado e que acomodar-se na vida é o mesmo que se apagar por dentro; que dizer “bom dia” é sempre um ato de gentileza e generosidade, ainda que se acorde ao lado de quem não lhe disse “boa noite”; ensina-lhe que não há nada de errado se homem lavar os pratos da pia e que o box serve justamente para não respingar o resto do banheiro; que ser pontual também é demonstração de respeito e que diálogo só pode ser feito de comum acordo, nunca por imposição; que fazer surpresas é renovar o ciclo de carinho e que tpm não é, e jamais será, caso de insanidade. E, sobretudo, ela o ensina, com suas magistrais paciência e persistência de mulher que se ama, que fazer amor (embora muitos achamos) não é sinônimo de fazer sexo.

É porque para a mulher que se ama, o amor se faz antes, durante e depois, numa sucessão atemporal de afeto e cumplicidade que, se assim (e só assim) for, o sexo poderá durar horas, dias, meses, uma vida inteira.

Quanto a nós, homens que lançam olhares bandidos no meio da multidão, continuamos fazendo nossas juras de amor patéticas e resmungando por atenção e carinho – sem darmos conta que para merecer a mulher “escolhida” nos basta amá-la, tanto ou mais do que ela mesma se ama.
* * *

8 comentários:

Humberto Dib disse...

Grande verdade, Farley, gosto da sua forma de dizer as coisas!
Un abraço.
HD

Dalinha Catunda disse...

Gostei, Farley,
Valeu a pena visitá-lo. Com certeza virei mais vezes.
Um abraço,
Dalinha

lisebe disse...

Muy buena reflexión . Enhorabuena ! ! Un beso

Malu Machado disse...

Que declaração! Um texto sensível, poético e muito verdadeiro. Você escreveu com vontade. FIcou ótimo.

José Fernandes disse...

Linda crônica. Nós, homens, precisamos aprender lições de amor com as mulheres. Abraço, Farley!

Fellippe disse...

E que sejamos domesticados, e agradeçamos por isso!

MA FERREIRA disse...

Farley..linda cronica...

A mulher que se ama é segura. Tem isso no olhar. Tem atitude. Ela não precisa fazer nada pra chamar atenção. Basta ser ela.

bj

Mara Rubia disse...

Muito bonito!
na verdade, qualquer um, que se ame, ama melhor o outro...
parabéns pela sua sensibilidade ao falar do universo feminino sob a ótica masculina.