Blog de Farley Rocha

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Café By Night



* * *
Na surdina da rua Dom Silvério, de onde ao longo a cidade pode ser vista em panorâmica, esconde-se um estabelecimento com ares de pub voltado a um público noturno e restrito: o “Café By Night”.

Diferente dos bares e inferninhos em geral, o Café é frequentado por um grupo especificamente seleto, onde somente os “iniciados” (geralmente amigos e amigos de amigos) têm permissão para frequentá-lo. Uma mistura de clube e sociedade secreta que exigem convite e perfil adequado como pré-requisitos.

Seus membros, os insones da boemia, os cinéfilos da madrugada, os sonhadores de ofício e os contadores de história, visitam de segunda à segunda as instalações que só à noite abrem suas portas. Assim, quando o último boteco varre o chão e já não há mais nenhuma possibilidade de entretenimento na cidade baixa, o Café By Night inicia seu anônimo expediente – que, aliás, não conta com garçons, balconista ou qualquer outro serviço de atendimento. Seus clientes são seus próprios gestores e serviçais, num regime cooperativista e democrático entre si.

Por ali (o espaço constituído de quinze metros quadrados com uma mesa redonda no centro, um sofá veludo vermelho na lateral, dois puffs de couro sobre tapetes, uma máquina de expresso, xícaras, frigobar, toca-disco, baralho, cinzeiros e uma parede revestida em pátina e quadros decoupage), seus frequentadores se ajeitam e se servem. E desenham no ar uma densa penumbra com o halo de suas longas conversas e a fumaça carburada pelo narguilé oriental. Até que alguém, solidário, se disponha a abrir as janelas.

Eclético, o som da Maria (apelido dado à velha vitrola) varia conforme o princípio musical dos presentes de cada noite e à medida que a madrugada voa – quem chega às onze ouvindo Audioslave, às quatro já está curtindo um LP original de 1966 do Simon & Garfunkel, e dando pala de si mesmo enquanto adoça seu cappuccino.

No fundo – diria quem os conhecesse bem – não passam de homens e mulheres de espírito livre e alma com inocência da infância.

Pois, ao contrário do que muitos creem, lá não há conspirações mirabolantes ou planos nefastos de assalto a bancos; também não há convenções partidárias de oposição nem transações de produtos do mercado ilícito. Apenas desfiam noites no carteado sem apostas, folheiam exemplares antigos das revistas Fluir e Bizz e constroem narrativas épicas a respeito do céu, futebol e música. Nisso, vão cofiando horas quando o dia chega para que todos, de modo responsável, retomem normalmente suas rotinas, seus trabalhos e suas vidas de filhos sensatos que sempre foram – e sempre serão.

Até que a próxima noite caia e o Café By Night reabra suas portas sobre a cidade em panorâmica, salvando os insones do silêncio das ruas e do tédio do Calçadão.

13 comentários:

Um brasileiro disse...

ola. estive por aqui dando uma espiada. legal. apareça por la. abraços.

Café by Night disse...

Como sinto saudades desse lugar e de pessoas que por ali passaram...

Rosa Mattos disse...

Este Café parece ser mesmo especial. É como atravessar um portal e se transportar para outro lugar.

O texto ficou convidativo, como uma resenha tão bem escrita que deixa água na boca e nuvens nos pés.

Fillipe de Felice disse...

Gostei do penúltimo parágrafo, que versa sobre conspirações mirabolantes.. rs

Parabéns pelo blog meu amigo.

Ass.: Mau mau

Aninha disse...

Que lugar é esse?Como faço pra entrar nessa sociedade secreta...e que belo texto,parabéns!

Pdrohenriqueto disse...

Amigo parabens pelo blog,e vem cá esse lugar e real existe mesmo?Ou e apenas um texto ficticio?!!Que charme,mto interessante os pensamentos,como nos PUB's ingleses,parabens pela materia,e se quem souber onde fica me informem,grato e boa tarde

Saraceni disse...

caramba era isso mesmo,que saudades velho,ow mandar um abraço pra essa galera que fazia do By Night o melhor lugar de EF,abraços

Espera feliz tem disse...

caramba,boa lembrança Farley!parabens pelo blog.

Espera feliz tem disse...

Caranba! que lembranças boas Farley,ficou muito bom o blog

Fellippe Heitor disse...

Como disse a Rosa Mattos, a palavra para esse texto é "convidativo".

Mas pelos outros comentários, parece que a sociedade secreta do Café by Night, além de restrita, teria sido extinta? Ou seria só uma tática para manter espiadores distantes?

De qualquer forma, belo texto.

WT disse...

Quero agradecer ao Farley por me fazer lembrar com tanta perfeição do Café By Night,daquele lugar tao ESPECIAL e de pessoas sinceras que não voltam mais,esse texto vai ficar pra sempre na minha memoria,obrigado e digo isso muito emocionado,porque so quem viveu ali sabe o que eu estou dizendo,grato

Malu Machado disse...

E eu que fiquei aqui pensando aonde na Dom Silvério seria este bar dos deuses que eu não conheço! AH, era em outra cidade rss.

Então, puxei pela memória os bares e cafés que um dia frequentei. Hoje minha vidinha de mãe de pequeno não me permite noitadas tão inocentes. Mas ainda ouço boa música e tomo um bom vinho ao sol do meio-dia.

Abs,

Farley Rocha disse...

O "Café By Night", dizem, era mesmo um lugar fabuloso. Eu mesmo não cheguei a conhecê-lo, mas quem o frequentou, de 2002 a 2007, fala sobre suas madrugadas insones e quase fictícias.
Entrou pro imaginário da cidade das montanhas do leste!
Abraço forte a todos.