Blog de Farley Rocha

sábado, 14 de maio de 2011

O Bolero de Ravel

Há dois dias estive conversando com um amigo pela internet, amigo alías desde pequeno e quem não vejo há bastante tempo. Falando sobre música, bandas e tal ele me disse ser hoje enfim maduro em relação a essa arte. E num acesso de nostalgia sempre comum aos de trinta, ou aos deles já próximo, contou pela milésima vez, com ternura no coração e energia nas teclas, ao velho amigo daqui distante que sua trajetória musical (como apreciador) foi “ampla e paradoxalmente restrita”, (?), nas palavras dele.

Sua iniciação foi quando se tornou metaleiro aos quinze anos, punk aos dezesseis e meio, aos dezoito decidiu ser maluco de estrada, e aos vinte retornou da sua grande jornada peregrina PAZ  e AMOR (de dois anos percorrendo um gigante raio de exatos 50 km) dizendo ser um “estudioso do conceito revolucionário dos Beatles com vocação para livre interpretação místico-psicodélica sobre a obra”, também nas palavras dele. Depois disse a mesma coisa a respeito do Pink Floyd, Mutantes, Tom Zé e outra meia dúzia. Assim, ele quis definir sua trajetória musical como “ampla” ao se referir às várias informações sonoras que acumulou ao longo do tempo; porém “restrita” porque nunca soube gostar de diversos gêneros ou estilos ao mesmo tempo.

Mas hoje, já distante daquela fúria ingênua adolescente e sem mais a utopia de ser um Jimmy Page das guitarras, diz que agora a música pra ele é absorvida pelos ouvidos como se seus tímpanos fossem pulmões, e que independente do ritmo que houve gosta mesmo é de música boa. A que mais se arpoxima da pureza de espírito do homem e da simplicidade da existência das coisas é a que o toca mais, ou a que ele mais toca, enfim.

Quando diz que maturidade musical é isso, naturalmente sinto que devo concordar. Não pelo que ele relembrou ou revelou durante o papo nostálgico entre dois camaradas, mas pela descrição honesta e comovente junto ao link que me enviou logo ao final da conversa:

“– Amigo, tb ouvir isto d vez em quando faz bem à saúde de qq hum!
Abçs..
A.I.”
* * *

6 comentários:

José Fernandes disse...

Certo... amadurecimento musical, com certeza. O gosto musical se eleva a uma percepção sonora que deixa de apenas mover os sentidos e passa a mover, também, as emoções. Pense nisso aí, meu amigo Farley: A diferença entre o gosto musical ligado aos sentidos e o gosto musical ligado às emoções, sendo que o segundo caso representa um amadurecimento em relação ao primeiro. Parabéns por mais essa bela crônica. Meu abraço.

Luiz Fernando "Mirabel" disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luiz Fernando "Mirabel" disse...

Dois-pra-lá, dois-pra-cá. Por mais jazz que seja a maturidade, sempre vai haver um punk adolescente pronto para gritar contra a máquina. Girou e um-dois-três, girou e quatro-cinco-seis.

Anônimo disse...

muito bom isso!
bom demais
bj

http://rgqueen.blogspot.com/

Canto da Boca disse...

“estudioso do conceito revolucionário dos Beatles com vocação para livre interpretação místico-psicodélica sobre a obra”, essa frase me lembrou o Gil, quando foi "convidado" a se explicar numa delegacia, lá pelos tempos dos Doces Bárbaros.
Quanto ao amadurecimento musical, antes tarde do que nunca, até porque isso não está ligado à idade cronológica, mas a outros fatores. E como não concordar que 'música que presta' é a boa (assim redundantemente). Já eu, coitada de mim tenho um universo musical tão amplo quanto os meus sonhos...

;)

Farley Rocha disse...

O texto é quase nada. Já a música é quase tudo.
Abraços!