Entre o úmido orvalho da superfície e a parede de vidro do copo gelado há um qualquer espaço que nenhuma mão alcança. Mas elas estão sempre em seu contato. E são tantas as mãos tocando os também tantos copos... que cristalinos se vão em tilintar e respingos. Em seguida o beijo molhado das bocas: uma delas, a do copo. E seus formatos diversos imitam espalhados sobre a mesa um tabuleiro de xadrez, com tulipas rainhas sobreolhando rasos peões de botequim. Porém, no fundo, não há diferenças entre nenhum. Todos estão sob a mesma função, embebidos da mesma alma. Vão da prosa ao verso, do sussurro ao berro.
São os copos que se repetem noites a fio. São platéias de histórias, verdadeiras ou mentirosas; suprimem rostos deprimidos; assistem a confissões e olhares; levam a outras percepções os seus donos, depois de arrancarem-lhes sorrisos. Transformando-se em risos. No meio do bar os copos observam os quadros das paredes, no entanto não imaginam que também compõem um cenário da estampa de qualquer noitada por aí. E sob a fumaça misturada às vozes, devem possuir um ângulo privilegiado de vista. De sua perspectiva de centro da onde tudo à volta acontece, ouvem o som da paisagem boêmia recortado por palavras, salivas e flertes, antes ou depois do beijo deles. No final, levam consigo histórias, enquanto durar o seu líquido incipiente.
E mais cedo ou mais tarde, sobre os copos, acabamos não sabendo de nada. Mas eles sabem de tudo.
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*Créditos da imagem: Eder Herdy - (Bar Central do Chopp)
2 comentários:
Adorei!
Nossa, adorei esse!!!
Ps.: Farley, fui apagar os scraps só hoje, e vi que perguntou se poderia fazer link do meu blog. Claro que sim, é um prazer! Posso fazer o mesmo???
Abraço.
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