Blog de Farley Rocha

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A cordilheira

(Foto: Jean Carllo)

O sol que já trespassa a janela projeta no contorno deitado do seu corpo sombras do relevo montanhoso que insinuam suas curvas. Aos pés da cama, vislumbro sua paisagem mórfica que faz lembrar uma serra, desde as colinas frágeis dos seus tornozelos até os picos mais íntimos despontando à altura do seu busto.

Na manhã revelando as encostas do seu dorso, sigo entre lençóis, plumas e alfazema em direção ao horizonte definido nos detalhes da sua beleza – aventureiro, desenho mentalmente um mapa de rota ao observar a geografia descoberta pela sua nudez.

Então, inicio jornada subindo paredões de seda que (deitada) formam a planta dos seus pés. Ao cravar de delicados beijos, alcanço feito alpinista a altitude dos seus primeiros flancos, escalando cada falange dos seus dedos sobre os quais admiro a cordilheira feminina de suas planícies aveludadas. Respiro fundo e continuo, migrando carinhos em cada centímetro dessa expedição corporal.

Nas vertentes das suas pernas, lisas como a face rochosa de um penhasco, escorrego o rosto e desequilibro-me. Mas seguro firme (e docemente) no platô lapidado que a natureza fez de seus joelhos. Mais uma vez respiro, e sigo acariciando passos com as mãos nas lombadas sensuais de que formam suas coxas até o quadril – em sonhos de montanha adormecida, deve sentir vertigem quando caminho cílios na pradaria sensível de suas virilhas

Ao longo, posso avistar o planalto acinturado que compõem seu colo e barriga. Enquanto mais próximo, margeio o pequeno abismo do seu umbigo tateando o fundo com o eco de um estalar de beijo (em resposta, sinto delicados terremotos junto ao arrepiar de suas extremidades).

Do ângulo onde estou agora, posso ver o sol amanhecendo por entre seus dois mais obtusos píncaros. Suas gêmeas montanhas as quais alcanço o topo já ofegante, e minhas pulsações confundem-se com os tremores que vêm do lado esquerdo do solo do seu peito – ambos, aventura e aventureiro, acelerando-se à mesma adrenalina de conquista.

Assim, chio pelos grotões entre seu pescoço e queixo, correndo lábios pelo desfiladeiro do seu pescoço até a flora da sua nuca e cabelos cheirando a orquídea. Nisso, como se descobrindo a fonte secreta que se esconde na geologia do seu corpo, enfim beijo sua boca como um homem no Everest pode beijar o céu.

É quando a cordilheira acorda do seu sono de mulher e o despertar de suas placas tectônicas fazem suas montanhas, colinas e escarpas evoluírem. Num estremecer de braços e pernas e abraços provocam avalanches de volúpia sobre a cama desarrumada até que o alpinista, extasiado, busque abrigo na segurança do seu ombro, entre o travesseiro e o seu ouvido – local onde lhe direi em sussurros as palavras que somente suas montanhas poderão ecoar no espaço e tempo desse quarto.

5 comentários:

Tatiane disse...

Adorei o texto!! Impressionante a sua capacidade de envolver o leitor em suas histórias cheias de poesia.

Fellippe disse...

E a possível passividade dela, enquanto é vasculhada, na verdade é ação; faz crer que o outro é o explorador enquanto é ela quem delimita e permite a exploração. Ele acreditando ser o conquistador, ela tendo certeza de que escolheu o alpinista certo.

Mara Rubia disse...

uau! erótico, viril, romântico, delicado e sutil ao mesmo tempo!!!

Viviane disse...

Mais uma vez, parabéns! Delicioso de ler!!!!

Quézia disse...

Simplesmente maravilhoso!