Blog de Farley Rocha

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O cosmonauta

O cosmonauta está entediado dentro da sua cápsula disfarçada de apartamento. No segundo andar de um prédio qualquer, decide sair e explorar os anti-espaços que permeiam cada palmo de chão lá fora. Um mundo, para ele, tão vasto e ainda tão desconhecido. Veste seu macacão balofo e calça suas botas especiais com design aerodinâmico. Por fim, acopla-se o capacete esférico e desce as escadas como em trajes de mergulho do início do século passado. Na rua, caminha a desbravar o ambiente alienígena que o rodeia.

Segue avenida afora sob passos flutuantes e incertos. No céu escuro não há lua(s), mas Vênus pode ser visto a olho nu. Porém, sem seus conhecimentos astronômicos sobre antigas civilizações, o cosmonauta facilmente confundiria o planeta brilhante com as estrelas e outros corpos celestiais da imensidão espacial.

Em sua exploração interplanetária, descobre que sua atual localização se faz presente em um povoado formado pelos nativos do mundo em questão. Há bares e portas acesas. De dentro do seu capacete em forma de aquário, ele analisa os habitantes que circulam pelas ruas. Observa os trejeitos, o sotaque, as feições. Ao que percebe, há machos e fêmeas (ou homens e mulheres?). Usam roupas, calçados, bijuterias. Falam ao celular.

O cosmonauta segue.

Resolve entrar em um dos estabelecimentos. Um bar noturno. Ou como os nativos chamam: um night club. No interior, todos bebem e o cosmonauta sente sede. Mas não pode abrir sua viseira. Não sabe de que substância se compõe o ar desse mundo em que pisa.

Ele sai de lá e flutua outros passos para outras direções. O cosmonauta quer observar outras ocasiões. E vai, deixando a brisa que deve ser verão o levar por outras ruas.

E assim circula pelo povoado cósmico até as últimas horas da madrugada. Antes que o sol, vindo do leste, do sul ou do norte, apareça, o cosmonauta retorna à cápsula de onde surgiu. Leva consigo as informações coletadas em sua pesquisa de campo e faz análises mais complexas em relação a tudo o que viu, tirando suas devidas conclusões.

Na cápsula, no segundo andar de um prédio qualquer, o cosmonauta aguardará o dia em que regressará ao seu planeta de origem. Que talvez seja Marte ou Júpiter. Ou, talvez, a própria Terra.

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