Blog de Farley Rocha

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Quando ganhar não é suficiente

A tarde de uma terça-feira gorda mal acabava de começar, e uma certa agitação movimentava as cidades por completo, como uma coceira urbana espalhada por todos os cantos, em cada metro do chão do país. Havia correrias, trânsito esquizofrênico e barulhos de diversos timbres. Instantaneamente, tudo parou. Não tinha mais carros pelas ruas e talvez nem cães. As poucas pessoas que eram vistas pelas calçadas andavam aceleradamente para chegarem a tempo. Uma reação coletiva assim é rara, só possível a cada quatro anos. Porque é tempo de Copa do Mundo.

Ainda no momento do alvoroço pelas ruas, o verde e amarelo das roupas da população tingiam de euforia até os pontos mais cinzentos. E frente às televisões nos bares, eram todos papagaios de tão brasileiros. Apitava, então, o início da nossa partida de estreia no mundial.

Os onze iniciados conterrâneos, lá no extremo sul do continente antigo, procuravam o melhor viés para que a pepita Jabulani ultrapassasse as linhas do centro do gramado. Nossas estrelas ainda ensaiavam o brilho no entardecer daquelas bandas. E o primeiro tempo da partida foi uma espécie de reconhecimento de território, um momento necessário até que a ficha caísse de vez. No intervalo, provavelmente o técnico deu a polida que faltava ao brilho do seu time, tanto que antes que os norte-coreanos percebessem, os verde-amarelos sacudiram sua rede, e os fizeram mais precavidos como bem manda sua disciplina asiática.

A quem assistia a partida daqui, as vuvuzelas tão empolgantes quanto irritantes eram o coro da nação inteira que gritava vamos todos juntos, pra frente, Brasil! E os onze foram mesmo. Mais um gol a favor entre o bloqueio vermelho, que tornou-se ainda mais fechado que as fronteiras do país de onde vinha. Apesar do esforço (no fundo foram bem), nossos jogadores não conseguiam mais penetrar na zaga formada por quase todos os homens adversários. E de um dos nossos esforços em vão, resultou um acerto deles, mas que ficou apenas por isso mesmo. Placar final, 2 a 1. Final de jogo. Final de tarde.

O público por aqui pediu mais cerveja, aumentou o volume da música, levantou de suas cadeiras e como não havia mais nada a fazer, foi comemorar. Como se todos elogiassem um tira-gosto sem sal e sem tempero.

Mas ganhamos, ora. O que há conosco?

* * *

O resto do mundo joga pelo resultado, esse o real objetivo do jogo. Mas quando se trata da seleção brasileira, o mundo espera mais que isso: espera ver futebol. Inclusive nós. Mas a Copa está só começando, e o futebol ainda está por vir.

Um comentário:

Paulo Jorge Dumaresq disse...

Farley, vamos torcer para o futebol brasileiro vir mesmo.
Pelo apresentado terça-feira, está bem distante.
Bacana a crônica.
Abraços.