Blog de Farley Rocha

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O primeiro livro que se escreve

Escrever um livro parece não ser mesmo muito fácil olhando de longe. Mas para quem se aventura ao escrever um, tendo a experiência bem de perto, acaba constatando que o mais trabalhoso não é propriamente escrever o livro, mas sim a tarefa de reescrevê-lo. E sobre isso, partilho a minha humilde experiência.

Já vi poetas dizerem que escreveram poemas clássicos em dois minutos, prosadores que criaram romances em poucas semanas (Kerouac gastou três dias e três noites no “vagabundos iluminados”), mas nunca revelaram o tempo que levaram para dar o toque de acabamento no texto, aparar, riscar, modificar, refazer as imperfeições... E isso é que é o pulo do gato dos escritores. A maturação da idéia, a remodelagem da forma. Alguém me disse uma vez (ou talvez tenha lido) que é na revisão que o texto toma corpo literário; antes, não passa de um turbilhão de palavras e ideias desconexas, um amontoado de coisas inúteis. O que leva a crer que escrever o livro não se realiza escrevendo, e sim revisando.

Assim, acho que no meu caso esse é o período em que estarei, imagino eu, me aproximando do final pelos próximos dias. O meu primeiro livro está, teoricamente, pronto, dependendo apenas de mais algumas polidas (ou eternamente, não sei). E escrevê-lo foi uma maneira de vivenciar a experiência íntima que se pode ter com a literatura, dividindo com ela rotinas de insônias meio insanas e ingenuidade de sentimentos de um aprendiz. E por isso, hoje entendo que ler um texto com olhos de leitor é sim uma arte, a de saber sentir; mas ler um texto como quem está do outro lado, por trás do texto, não é só arte: é a arte de saber sentir acrescentada da habilidade do ofício de fazer arte. Sei também que quando o leitor vê algo, ele associa a algo que já leu. O escritor vai mais além, ele já tem que ter visto antes para escrevê-lo, registrá-lo, e é isso que o diferencia. Neste caso, o escriba é forçado a observar o mundo ludicamente a todo instante. Para, a qualquer tempo, condensar tudo o que vê no ofício de confeccionar sua obra. O que não é fácil, mas exaustivamente prazeroso (ou exaustivo de verdade).

A gênese desse meu livro aconteceu há sete anos atrás, quando, do meu jeito retraído, percebi que para se escrever um livro é necessário posicionar-se diante do que está sendo criado, porque como todas as criaturas cobiçadas pelo homem, o texto tem que ser domesticado, algumas vezes domado a força, outras afagado. E o lidar com a palavra ensina isso aos poucos. Desde então, depois que o escrevi, venho burilando o seu conteúdo, ora a martelo, ora a astronômicos golpes de devaneios. O resultado, portanto, talvez seja o supra-sumo particular que tenho daquele olhar que o escritor deve lançar sobre o mundo, antes de qualquer um (e nesse momento, confesso, reflito puramente como leitor, tentando ler minha própria obra com olhos de escritor – se é que já posso ser visto do outro lado).

Meu livro de estreia é uma coletânea com pequenos poemas os quais considero fragmentos de micro-universos possíveis (no plano da poesia e fora dela também). A princípio, seria publicado em papel impresso, na versão pocket e de modo independente. Mas por algumas inviabilidades, inclusive econômicas, e outros tais, decidi publicá-lo na web, em formato bookblog. Também sou daqueles que entendem a internet como um oceano digital cheio de correntes marítimas com extensões mundiais. E estou preparando meu barquinho para zarpar pela rede, mesmo ele não sendo de papel.

O título, até dois meses atrás, seria “dias BLUE JEANS”. Mas durante as últimas madrugadas mudei de ideia e escolhi o nome definitivo pro meu livro. Chamará “mariposas ao redor”. Apesar da disparidade de sentido entre ambos os títulos, quem puder ler (fico na expectativa) entenderá a mudança. Torço para que meu esforço tenha valido à pena e que minhas “mariposas poéticas”, após alçarem seu voo, façam tanto sentido para quem vier a lê-las quanto fazem para mim agora, pousadas dentro do pendrive.

Voltarei a dar notícias sobre o livrinho.
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Penso publicá-lo em agosto ou setembro e, por ser um bookblog, terá lançamento virtual aqui no meu Palavra Leste. Também estou preparando junto com um amigo o vídeo do trailer do livro. E até o lançamento postarei por aqui o [making of] das finalizações do meu primogênito “mariposas ao redor”. Abraço.

5 comentários:

silvia zappia disse...

espero el vuelo de tus mariposas

(las mías andan aleteando)


besos >*<

Marcelo Novaes disse...

Farley,



Aparando arestas [ou lapidando facetas] para libertar o voo das mariposas.



Bons voos, meu caro!


:)






Abração.

Luiz Fernando "Mirabel" disse...

Amigo,

palavra é o bicho que matura em polpa. Resulta em arte borboleta, mariposa ou vespa. Resulta em casos de admiração,asco ou picada.

Palavra é o isso e o aquilo. E nesse caso, a palavra é o seu artifício!

Um livro é cria que deve aprender seu caminho com o mundo...solta a mão e deixa correr!

Sorte, meu bom, espero que seja o princípio com meio sem fim!

Abraço,

Mira

Odele Souza disse...

Gosto bastante do segundo título. E estou torcendo pelo sucesso de seu livro.

Um abraço.

disse...

Crônica atualizada no blog palavra leste. Depois de um convite que recebi por e-mail, aqui estou para dizer que valeu a pena a visita. Bom texto, saudade do blog!