Na noite do último sábado, a meia dúzia da juventude indie das montanhas do leste se reunia ao redor de uma das mesas do Brasinha para comentar acerca da notícia chegada via internet pela manhã daquele mesmo dia. A morte da cantora mais promissora do século XXI não passou indiferente nem mesmo por aqui.
Em palavras veladas pelo respeito que se tem a quem acaba de deixar a vida, falava-se sobre Amy Winehouse não mais como a talentosa artista sempre rodeada de escândalos, mas do fenômeno que ela foi em relação à música do nosso tempo.
No bar, a tv de plasma bem presa à parede ressuscitava em 52 polegadas a inglesinha miúda e seu vozeirão de blue, depois que, numa espécie de tributo disfarçado de casualidade, alguém do grupo entregou um DVD ao garçom enquanto ele buscava as biritas. Vizinhos de outras mesas olhavam de relance aquela mocinha tatuada na tela e rumoravam entre si “essa que é a tal?” ou “olha a doida varrida aí?” ou “quem é ela?”.
Entre goles, como uma homenagem póstuma bastante pertinente à homenageada em questão, a meia dúzia da mesa de cá discutia sobre suas canções desde a época de “Frank”, o primeiro dos dois discos que gravou. Apesar das inevitáveis comparações à Billie Holiday e Aretha Franklin (personagens as quais o grupo muito pouco conhece), as opiniões sempre convergiam num único ponto em comum: que Amy Winehouse, independente de sua morte prematura, era um ícone pop o qual nossa geração viu explodir, ecoar e depois se imortalizar aos quatro cantos, num processo natural parecido com o de Michael Jackson, de Janis Joplin ou de John Lennon. Estrela que deixa seu brilho para a posteridade – no caso dela, uma estrela-cadente.
Comentava-se sobre sua decadência íntima desencadeada pela vocação autodestrutiva e como isso sustentou, dentro e fora de suas composições, a maior parte do seu sucesso, sendo assunto quase semanal dos tablóides britânicos. A partir desta data, os que estavam ao redor da mesa naquela noite, já previam que por muito tempo a mídia mundial alimentará perversamente especulações rentosas a respeito de seu declínio pessoal, tecendo teorias que motivaram seu fim, dramaticamente, já percebido de antemão por todos nós. Seu ex-marido Blake, amálgama entre sua lucidez e o envolvimento com droga(sss); seus excessos descabidos de bebida e desmazelo consigo mesma; as perseguições dos veículos sensacionalistas por suas derradeiras pirações...
E para não destoar do que já se tornou senso comum, discutia-se na noite do último sábado sobre seu posto recém-adquirido de mito da música pop que, por qualquer que seja a verdade sobre sua morte, eternizou a imagem que construiu de si mesma dentro de apenas vinte e sete anos vividos – mas, como os da mesma lista antes dela, o suficiente para imortalizar seu legado.
Assim, no instante que alguém da mesa sugeriu um brinde à pequena-grande obra que sua morte havia selado, no telão de plasma da parede do bar Amy Winehouse, talvez em seu melhor momento, aparecia cantando Back to Black sob nossos olhares com ar de vigília.
Antes de virarem os copos, os indies das montanhas fizeram um minuto de silêncio – não somente por sua morte, mas pela lenda em que acabara de se transformar.
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5 comentários:
Muito bom, Farley
Ela cantava muito bem, uma voz fantástica. Foi uma grande perda para música. Talvez, se ela não tivesse morrido tão jovem, adquirisse um melhor equilíbrio na maturidade, assim, o futuro da música ganharia um fenômeno. Enfim, esperemos o resultado da autópsia, mas, ao que tudo indica, as drogas nos privaram de curtir mais uma grande artista e impediram de viver mais um ser humano.
fiquei devastado com a morte da amy, e olhe que não me considero fã dela. realmente foi uma grande perda, uma artista de enorme talento, e o mundo perdeu uma pérola da arte.
grande abraço, parabéns pelo blog.
Embora seja mesmo uma grande perda para nossa música, sua rápida existência já é um grande prêmio pra nossa história.
Forte abraço a todos!
Eu demorei a acreditar que ela morreu!
Estranho demais...
Eu amo ela, o trabalho dela é maravilhoso, ela é muito talentosa onde quer que esteja!
Beijo Ahhhh eu tenho um Back to Black em edição de luxo a anos rsrsr...
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