Blog de Farley Rocha

quinta-feira, 17 de março de 2011

Dois episódios em uma semana


No início da semana passada, Espera Feliz sentiu um leve abalo sísmico durante a madrugada. Na verdade, não foi a terra que tremeu, mas para parte da cidade, quase.

Com as chuvas incessantes por aqui, o canal subterrâneo pelo qual escoa o córrego do Bairro do Roque até o Centro entupiu com os destroços das enxurradas, e uma fração do bairro ficou alagada durante toda a noite.

No dia quase amanhecendo, a barragem inconveniente que havia se formado fez com que a galeria do canal estourasse, e todo o solo por cima dela cedeu, formando uma cratera colossal no chão da rua, como se um meteoro (ou a lua inteira) tivesse caído ali, numa colisão disfarçada pelo barulho da chuva.

Boatos na cidade disseram que a causa foi omissão do poder público, embora não tenha feito nenhuma vítima. Outros acreditam que por culpa desse acidente semi-geográfico, toda a enxurrada desse lado do mundo desceu como num ralo pelo furo da rua e vazou lá no Japão, na forma de tsunamis.
* * *
No final da semana passada, um evento de relevância global começou a desencadear-se. Com a devastação parcial do Japão pelos sucessivos piores maremotos de todos os tempos, a civilização despertou sua atenção para vários aspectos de consciência.

O padrão é que grandes tragédias naturais como esta fazem com que todos os povos (ou nem todos) voltem seu olhar para a comunidade atingida e lhe ofereça apoio, solidariedade e amparo. Mas agora há algo diferente. O desastre na ilha do pacífico não foi só o arrebol de ondas gigantes, mas ainda está em curso, com as avarias das centrais nucleares provocando um terror psicológico muito mais intenso.

A cada pronunciamento do governo japonês, nenhuma boa nova. São incêndios, explosões e o medo, por parte da população, de ser afetada por um desastre que nem mesmo pode ser visto, as células mortais de radiação pelo ar.

Há, principalmente, o medo de que um dos reatores provoque uma hecatombe nuclear talvez maior do que a da Segunda Guerra. O que nos força a refletir sobre como anda a humanidade. E parece que nestes termos a reflexão já surte efeitos: Alemanha fecha sete usinas, China suspende programa nuclear, nações repensam suas formas de gerar energia.

Mesmo que a situação do Japão não piore (pois assim todos cremos), este talvez seja o momento para que uma nova ordem mundial seja consolidada. E o clímax dessa revolução de consciência talvez seja um possível ato de redenção do carrasco que deixou uma das mais doídas feridas na história do mundo: os EUA, num gesto civilizadamente humano, ajudar a reconstruir o país que no passado, num gesto de selvageria, quase apagou do mapa.

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