22-08-2010
(17:27h)
Estou no topo do Mirante da Serra, observando a esquiva do sol que se aproxima do horizonte a oeste, bem a minha frente. E lá por baixo, vejo Espera Feliz e suas ruazinhas estendendo-se entre as pequenas colinas do vale por onde surgiu. Devo estar a uns 1.300 metros de altitude. Solitário. Ventos fortes e desconexos uivam neste pré-início de noite montanhesa.
Pra chegar aqui em cima nesta tarde, caminhei durante duas horas e meia desde a cidade. Vim pela BR 482 sentido litoral, contornando o sopé desta montanha, e, depois, pela parte de trás dela, subi por uma estradinha alcantilada que começa numa lavoura de café e vem ziguezagueando por uma floresta fresca de eucaliptos. Termina embrenhando-se numa matinha antiga e úmida, com árvores de jacarandá, jacaré, samambaias selvagens e pequenas plantas ignotas (quando a estrada alcança o cume, tem-se a impressão de que se chegou ao fim do aclive do mundo. Mas o anil da tarde logo revela que não. É só o começo do céu).
A uns cinqüenta ou sessenta quilômetros ao norte, consigo ver os conglomerados de picos no maciço da Serra do Caparaó: Cristal, Calçado, Bandeira, todos envoltos numa película transparente da atmosfera enfumaçada de agosto. A abstrair pela geografia desta região de altos e baixos, percebo que o monte onde estou agora, o Mirante, de alguma forma também pertence à mesma cadeia de montanhas que vem de lá. Dos três altos picos, suponho que em tempos primordiais várias das cordilheiras que daqui tenho alcance tiveram seu início geológico a partir deles. Umas em território capixaba, outras na direção das Minas Gerais. Enquanto fotografo mentalmente todo esse visual de altitude, tento distraído imaginar o quanto esse mundo é mesmo velho.
Agora, o sol acabou de ultrapassar as últimas faixas de nuvens distantes e já toca a primeira ponta de solo no extremo oeste. Significa que meu show solar em stop motion está quase chegando ao fim. Mas antes de calçar as botas e pegar minha mochila pra descer a encosta, ainda quero olhar mais uma vez lá pra baixo e ver as luzinhas de Espera Feliz acendendo uma a uma, como se milhares de vaga-lumes passassem a habitar um vale esquecido e silencioso ao entardecer.
Apesar disso, creio que quando chegar em casa estarei de novo com bolhas nos pés.
Um comentário:
Lindo...
E aí, teve bolhas?
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