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Seu Domingos é o tipo de sujeito “ora, pois!” (com som de “x”). É português de sangue, de terra e de pensamento. Mas nada sobre ele diz muito. Diz pouco sobre si, mas muito sobre o mundo. É coroa já velhote. Sabe das coisas e fala, debaixo do seu boné bombeta de pano axadrezado. E o casaco? Pra frio forte. É tagarela mas caduca às vezes. No entanto, está mais vivo que qualquer felino. Sua mulher é brasileira. Da mesma raça a qual Seu Domingos, de certa forma, ainda não traduziu completamente para sua cultura de mesmo idioma, após anos de samba e manga madura no país das palmeiras. Ele tem os olhos mais lusos que brasileiros. Sua locomoção curta aparada pela bengala, vai e vem pela rua. Para com um e “ora, pois!” fala, fala e fala. E para ele têm ouvidos, não poucos.
Outro dia soube que Seu Domingos é poeta. Já desde Portugal à época que aprendia Camões na escola. Galanteou por lá seus versos e “por cá” arrastou-lhes por alguns lugares da serra, vindo parar aqui. Originais que manteve até o sotaque de seus sonetos. E recitou alguns a pedido, no meio da calçada mesmo. Depois olhou as colinas, o céu e o chão lançando uma atenção muda sobre o mundo à volta e fraseou um pensamento que lhe ocorreu:
– Olha, filho, o que muitas vezes sentes de belo não está nem sempre além-mar. Basta tu olhares por cá que verás o manifesto do amor, dos sonhos e de tudo o mais. Teu redor é preenchido por uma parte que tu não vês, mas faz te sentires bem. Isto, filho, é poesia puríssima.
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Ora, pois...
Ora, pois...
Um comentário:
Moloko velhote.
- Bem ! eu achava !!! mas nada,eram apenas prosas ( rsrsr ),sábias palavras, quão andante e cantarolando por ai, dirigia-se sempre por lá,sabe?
- Não mesmo.
Vellocet velho batuque ... castanhola (tac tac tac), ele é louco ?
- É o que diziam ! Mas nada, era apenas vida, e muitos que diziam estão afogados por ai.
O português Seu Domingos,representava "Ora pois" a moderna vida poética em meio as montanhas do leste; como não ?
Paulo Erenio
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