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A noite do
último sábado começou mais cedo. Em caravana, saímos devidamente despenteados e
amarrotados de Espera Feliz, nas montanhas de Minas, rumo a Alegre, nas serras
capixabas. Objetivo: assistir o show do Los Hermanos (para os fãs, o trocadilho
com o nome das cidades fará todo sentido).
Nesta edição
do Festival de Alegre foi relíquia presenciar a última apresentação de uma das
últimas bandas dos últimos tempos que conseguem deixar tanta saudade antes
mesmo de anunciarem um fim. É coletiva essa sensação de que a turnê especial de
quinze anos do Los Hermanos apenas antecipa um pré-ensaio dos ensaios oficiais
para um futuro retorno após o recesso – ao menos o entrosamento dos músicos
assim demonstrava.
Logo que
os moços se posicionaram no palco, ouviu-se ressoar pelo festival a explosão do
primeiro verso “olha lá...!”, seguida por uma sequência de vinte mil vozes
acompanhando a balada. No meio do público, composto por uma infinidade de eus
sozinhos, dava para se sentir como se acompanhando o bloco – os metais,
guitarras e baterias formavam a banda; os refletores coloridos no palco os
confetes. Mas como todo carnaval tem seu fim etc., não fingimos na hora rir.
Para a
banda, um turbilhão de gente cantando letras do setlist inteiro deve ser o
mesmo que comemorar um gol com quase duas horas de duração. Porque ali sua
música era para a vida de muitos como o público é para os músicos: uma só
coisa.
Parece que
aos fãs, os acordes de cada canção da banda são como pequenas peças de um fascinante
brinquedo, do qual a melhor parte é quando se está montando (ouvindo). Suas
músicas são como objetos, que ao acabar de ouvir dá vontade de enfiá-las no
bolso e ir embora – como carregar “Samba a dois” dependurada no chaveiro ou
colocar “Sentimental” no porta-retratos na estante da sala.
Mas o
segredo deles, imaginamos, não está a sete chaves. A fidelidade dos fãs está no
que percebem do quarteto. Por trás das barbas e camisas de gola, o público
enxerga a si mesmo, como se cada integrante do grupo pudesse ser qualquer um de
seus amigos, que ouvem os mesmos discos, leem os mesmos poemas e trocam as
mesmas ideias. Seu maior segredo: eles é quem são parte de nós. Contam (cantam)
nossas histórias, imitam nossas caretas, riem nossos risos.
Tanto que
durante o show os gracejos do Camelo, as mãos sonoras do Medina, a gentefineza
do Barba e a performance rastejante do Amarante deram sinais de que estavam
entre amigos – tipo ‘tudo em casa’.
Até que
chegou a vez do “Pierrot”, trazendo após seus rodopios o abraço dos barbados.
Nesse instante, a plateia não os via mais como músicos que se vão ao final de uma
apresentação, mas como hermanos que
se despedem quando partem.
No palco, os confetes de luz cessaram.